Naquele tempo não se tinha pressa, eram contos, casos e conversas na varanda da casa sem fim...
Oh Senhor! Tu tens sido o nosso refúgio de
Geração em geração, antes que os montes
nascessem e se formassem a terra e o mundo
de eternidade a eternidade tu és Deus (salmo 90:1-2)
Foto abaixo família Czaplinski e Odwazny reunida em outubro/ 85.
Foto familia Czaplinski reunida em outubro de 85 -
Da esquerda para direita; tio Vadek( falecido) depois
Vem eu e Minha filha Ellen (2 anos)
Depois em seguida vem o meu velho e saudoso pai seu
Estanismau (Stachek) apelido - Já Falecido em 86.
Depois vem meu Irmão Felipe vivo,
Depois vem a minha irmã Lúcia com o meu filho
ao colo Károl Aleckson e por fim o último, vem o tio Júlio.
Sou Nascido em Blumenau - Terra da Bela e Santa Catarina!
Sou Czaplinski, fui criado em casa dos avós Odwazny.
Avós de família por parte de minha mãe.
Relembro com saudades de meu pai e mãe:
Do tempo em que se separavam...?
Eu tinha dois anos de idade, pouca coisa consigo visualizar.
Mas de algo ainda consigo me recordar.
Dizia a nossa santa mãezinha em seu coração:
Oh meu Deus ! Oh Meus filhos!
Agora, para aonde iremos nós...?
Um anjo sussurrou mansamente ao seu ouvido dizendo:
Vamos todos para a casa da vovó Casimira e do avô João Odwazny!
E,com receio e humilhados para lá nos dirigimos.
Seja o que Deus quiser!
Confesso na saudade, que nunca conheci bem fundo o coração de meu velho pai.Seu Stanislau Czaplinski e dona Juliana!
Meu velho pai foi um pai ausente?
Só cheguei a conhecê-lo aos 22 anos de idade.
Ele não permitia que a gente se aproximasse de sua pessoa...?
Mas acho que, uma coisa faltava ao meu velho pai era o amor pela sua família.
Minha mãe dona Juliana fazia o que podia para sobreviver!
Com a ajuda dos avós, tios e amigos fomos criados, graças a Deus !
Éramos em quatro irmãos:
Meu irmão Felipe, eu Alfonso e duas irmãs, Genoveva e Lúcia.
Nossas irmãs foram dadas para a adoção:
Minha irmã “Genoveva (Guinha) ( cinco anos) foi morar com uma tia em um local chamado Treze de Maio - Massaranduba -SC
Minha irmã Lúcia( sete anos) foi morar com uma prima em Curitiba.
Minhas irmãs até os dias de hoje não conseguem perdoar a nossa mãe pela adoção.
Dizem as minhas irmãs: A nossa mãe Juliana nunca ia visitar-nos... se foi, uma ou duas vezes ,dentro de um período de tempo aproximado de 10 anos.
Seu Stachek nosso pai como era chamado pelos seus vizinhos gostava de caçar e pescar, gostava também trabalhar na roça gostava de fazer as festas de comemoração das colheitas de: arroz e feijão etc.
À moda dos índios... a moda dos bugres... como bem dizia meu pai,
Não sei aonde ele aprendeu estas maneiras diferentes de comemoração,
Dizia que foram os índios que o tinham ensinado, qual das tribos ele não sabia...?
Era uma maneira rude de SE dar Graças a Deus, e dizer:
DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO,
Se tinha bastante explosões de foguetes e rajadas de balas de revólver,
Como também, bastante tiros com sua velha espingarda de pólvora e chumbinhos.
Relembro a casa onde eu morava, lá no alto do morro, ao lado de um Ribeirão de águas cristalina. Aonde eu e meu irmão iamos brincando e correndo na água ia-se atrás dos patinhos novos que eram recém-nascidos. Era neste ribeirão que tomávamos banho de lagoa nas águas.
A plantação do canavial ao redor da casa da vovó e do avô velho João Odwazny.
Relembro os velhos ranchos de engenho da cana de açúcar !
Dos bois de canga, bois de canga e de trabalho,
o boi Estrelo e o boi Redonho.
Tio Júlio era o seu candeeiro predilecto...
Relembro ainda as suas passadas com a carroça que ia lentamente, à frente dos bois iam tio Júlio.
Tio Júlio ia bradando, Oi Estrelo...Oi Redonho...
Seus bois de estimação.
Relembro da plantação do arrozal do seu Bertolino,
nosso vizinho, homem que não gostava de nossa família,
Sempre se tinha uma encrenca com ele, mas sempre se perdoavam?
Relembro com saudades de minha namoradinha,
Oh Beli, você ficou na saudade!
Você foi a minha primeira namoradinha dos tempos de inocência.
Você foi o meu primeiro miorgado dos amores,
Brincávamos juntos e juntos queríamos ficar,
Mas o destino quis nos contrariar...?
Relembro do tio Edmundo e de sua Ferraria,
Todos os dias de manhã até a noite,
Lá estava ele, batendo com força em ferro frio,
Batendo em ferro cozinho e ferro aquecido.Coisas do tempo de ferreiro.
Relembro, ele movimentando com o pé no pedal de seu forno,
Seu forno movido a pedaleira manual, que fazia os assopro de alta temperatura,
Fazendo os assopros para que o forno esquentasse bem e cozinhasse o ferro. E que lentamente aquecia com carvão o seu ferro para malhar,
Ainda na saudade vejo as faíscas saltando de seu forno aquecido a carvão. Estas faíscas ficaram na saudade de tempos que não voltam jamais.
Relembro das noitadas que juntos íamos para a casa do tio Eko. Para se ouvir a "Voz do Brasil", que era transmitido pela rádio nacional de São Paulo. Logo após a voz do Brasil, se tinha no rádio o programa especial, era o programa de cantoria da dupla sertaneja mais famosa do Brasil que era: Tonico e Tinoco. Oh que emoção ! Oh que saudades!
Antes a gente deveria tratar todos os animais de roça. Deveria ser tratado a noite,era chamada de ração da noite para todos os animais.
Deveria se dar a ração para os porcos do chiqueiro deveria se dar a ração para os cavalos deveria ser tratado com a ração diária de alimento os bois, as vacas leiteiras, estas deveriam ter uma ração especial, caso contrário, não se tinha o famoso leite e seus derivados na mesa.
Oh que saudade que me dá! Em relembrar o avô sentado na varanda,
olhando e apreciando lentamente as baixadas verdes do arrozal plantado
chamado de arroz do brejo, o arroz que reverdecia e enchia os olhos.
Relembro das conversas e causos na varanda logo após a ceia,(janta),
Lá estava o tio Antek,lá estava o tio Júlio, lá estava o tio Tomaz,
lá estava o tio José o viajante, lá estava eu e meu irmão Felipe.
Eram nove horas da noite, Epa! Grita o tio Vadek;Lá vem alguém...?
Quem...? Interrompe o tio tio Júlio, vejam, Lá vem o seu Lipinski!
Nosso vizinho e contador de contos e casos que morava no alto da colina. Assim somos nós.Assim sou eu nos dias de hoje?
Sou o fruto dos meus velhos pais e avós,
Sou fruto dos erros e acertos dos nossos parentes.
Assim se expressa o Salmista dizendo:
Bem-aventurado é o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios...
Bem-aventurado aquele homem ou mulher que, apesar de tudo sabe honrar
E sabe respeitar, seu pai e sua mãe.
Assim fazendo e praticando, nos advertem os santos Evangelhos:
Terá paz na terra... Terá vida longa e tudo lhe irá bem.
Tempo todo eu queria cumprir estes preceitos divinos,
Mas se errei... Que Deus me perdoe!
Não sei se pude cumprir ao pé a letra estes santos mandamentos, Deus o sabe.
Mas, uma coisa fiz, creio eu, fiz de tudo para obedecer aos mandamentos.
Foi neste turbilhão de problemas familiares,
Que Deus em Cristo chamou-me para o seu trabalho,
Foi assim que Jesus Cristo deu-me vida e esperança pela fé.
Assm eu sempre desejo anunciar essa bela mensagem dos santos evangelhos.
LOUVADO SEJA DEUS EM CRISTO JESUS O NOSSO SENHOR E SALVADOR!
CASA DOS IRMÃOS ODWAZNY - CASA POLONESA
Era uma casa de roça de uma família grande de descendentes de poloneses.
Meu avô tinha dez filhos homens, minha mãe dona Juliana era a sua única filha.
Também se tinha mais gente para trabalhar na lavoura.
O serviço de lavoura era feito quase todo de uma forma artesanal.
Naquela época não se tinha as tecnologias que nós temos hoje em dia.
Mas como toda casa de roça sempre se tinha bastante serviço para se fazer, as tarefas de roça parece que nunca acabavam, sempre se tinha algo a fazer. Mal se acabava uma tarefa, já outra tarefa diferente estava nos aguardando.
Acordava-se as 4 horas da manhã e se trabalhava até altas horas da noite, ainda ficava muita coisa por se fazer.
Quando se acabava de ordenhar as vacas leiteiras, logo em seguida deveria ir-se e tratar as galinhas, depois de tratadas as galinhas, lá estavam os cavalos pedindo a sua ração diária...
Quando se acabava de tratar os cavalos lá estavam chorando de fome as vacas leiteiras, depois eram os porcos do chiqueiro que gritavam e assim por diante.
A gente nunca podia parar de verdade e descansar como fazemos hoje em dia nas cidades.
Hoje em dia tudo já vem quase pronto em nossa mesa.
As pessoas de cidade de hoje, trabalham menos e ganham pouco.
Lá se tinha o velho engenho de cana de açúcar que se cozinhava o famoso "meladão". Era um derivado da guarapa, que é o suco da cana de açúcar moída, suco de cana. O suco de cana levemente azedado fervido e re-fervido se transformava em "meladão".
Também se fazia a farinha de mandioca, biju e outros derivados da farinha de mandioca.
Também se tinha o açougue a cada final de semana era matado um boi ou qualquer um outro gado de corte.
Assim era a nossa rotina. Assim era a casa de roça dos irmãos
Odwazny. Mas agora, eram onze horas da noite... Alguém bate no portão...?
Quem vem lá...? Grita o tio Antek interrogando ?
O tio Júlio logo responde: É o seu Lipinski ?
Então em seguida gritava o tio Vadek..." Ocz komoter"...!
Que em polonês quer dizer: Venha compadre !
Lá vem o seu Lipinski...Vem com as suas encomendas mal feitas...?
Digo mal feitas, porque eram feitas pela metade,assim dizia sua esposa,
Sua mulher mandava-o fazer as devidas compras de roça,
Ele nunca comprava o que devia, ele sempre comprava o que não devia?
Assim dizia a sua esposa dona Baranocha, (seu apelido)
Seu Lipinski sempre tomava primeiro suas doses da "manguassa", marvada pinguinha, (o seu chlug) trago em polonês, daí, contava histórias,
E casos o dia todo no boteko do seu Laffin.
Depois iria pensar nas suas compras ?
Depois seguiria a sua viagem para o alto da colina, onde morava.
Depois ele iria se relembrar de sua lista de compras...?
É claro que não,esquecia de tudo ou só poderia se lembrar pela metade de sua lista de compras, Como se dizia na roça em nossa região, chamavam o Mercado de "Venda".
Naquele tempo se dizia: Vamos a Venda para se fazer o mercado.
Naquela época, o tempo não corria... A gente não tinha muita pressa,
Não se contava as horas...?
Não se contava uma produção feita as pressas...?
Uma produção mal feita, uma produção em série... Produção sem qualidade, produtos que são de menos valia para a vida?
São produtos de menos valia, de valor de (R$ 1.99)
Um real e noventa e nove centavos?
Não se andava com o relógio na mão, para se ver as horas,
Olhava-se para o sol, o sol e a lua eram nossos astros guias.
Na contagem dos tempos, na contagem das estações... Na contagem da vida...?
Ou então, olhava-se para a sombra do velho engenho de cana de açúcar e se dizia e se contava as horas do dia... ?
Assim, conforme estava a sombra declinada do sol, se dizia:
São doze horas em ponto.
Era a hora sagrada, era a hora do almoço, do arroz com feijão e pão de milho, com bastante carne de porco com torresmo,
Mais as saladas de pepinos em conservas,
Que eram feitas em salmoras com bastante sal grosso e vinagre,
Ovos fritos e mexidos, com mandioca amassada frita e meladão.
O almoço sempre era um momento sagrado, se fazia a oração para se agradecer ao nosso pão de cada dia,
Foi um tempo de fartura e se dizia:
Deus seja sempre louvado em Nosso Senhor Jesus Cristo !
A comida era boa, se dizia, o melhor tempero da comida era a fome de roça.
E como se comia ? Comia um prato, dois, três pratos cheios.
A gente comia para encher a barriga, a gente não sabia se alimentar,
Mas se dizia:
Vamos encher a barriga, era isso mesmo que a gente fazia.
Sem muita etiqueta, sem cerimônias vazias enfeitadas com
As vaidades humanas,
A franqueza era uma meta dos caipiras de roça...?
A verdade e a honra eram as nossas linhas mestras para a vida.
E nos velhos tempos de roça se tinha mais hospitalidade, mais camaradagem,
As pessoas e as famílias, parece que eram mais amigas,
Mais prestativas, Não se tinha a televisão, nem Internet, nem computador...?
A conversa na varanda da casa, assim se passava o tempo nas noitadas afora...
Falando em conversas e casos o seu Lipinski era um especialista,
Ele era como se diz nos ditados:”Transformava o ouvido em vista”.
“Suas palavras eram contadas em figuras de linguagem”,
Que nos faziam delirar de emoção,então,a gente sempre queria ouvir mais outro caso, mais outra história, mais outra figura, mais outro comentário.
Eram dez horas da noite, o homem estava falando,
Eram onze horas da noite, mais conversas e rola-papo...Rola-papo sem fim...?
Ouvia-se os cachorros do mato uivando nos matagais dos morros,
Nos morros e colinas do Município de Massaranduba.
A lua cor de prata continuava cintilante lá no céu.
A LEITURA DA BÍBLIA EM POLONÊS
Meu velho avô seu Janek Odwazny a pedido de seu Linpinki,
Deveria buscar a Santa Bíblia que era escrita em polonês
Bíblia esta que datava dos anos de 1940 publicada pela Sociedade Bíblica polonesa.
Era uma bíblia grande com bastante ilustrações, também era chamada de:
História Sagrada, sagrada pelo seu conteúdo e seu respeito que se tinha.
Agora, não se tinha pressa mesmo, o seu Lipinski já estava um pouco melhor...?
Depois do seu “porre” de cana brava,
Agora estava melhor mas, nem tanto?
Estava como se diz no datado:
Estava mais ou menos?
Parecia que o homem se transformava em um grande pregador,
Ficava muito animado com as histórias da bíblia,
Meu avô lia ou recitava de cor em polonês?
Recordo ainda de uma passagem bíblica da qual ele muito gostava eram:
A História das dez pragas que Moisés lança sobre o Egito.
Era um texto da bíblia que falava sobre as dez pragas que
Moisés lança sobre o Egito.Que mensagem!
Aqui parece que a “marvada pinga”não o atrapalhava em nada,
Muito pelo contrário,o deixava mais animado para comentar e pregar.
Ele não sabia ler, meu avô era o seu leitor e ele era o pregador.
Vale lembrar que, a luz de nossa época era o velho ensebado lampião a querosene.
Que lançava ao seu redor uma mistura de fumaça preta e luz,
Que lentamente ia queimando na sala e outro lampião estava bem ao centro da mesa da cozinha.
Que tempo animado !
Que momento feliz que ficou na saudade!
LIÇÃO DE HOSPITALIDADE E PACIÊNCIA
Meu avô ia dormir com as galinhas como se diz no ditado:
Isto é, 8 horas da noite em tempo de roça, já era hora de dormir, hora de estar na cama.
Em compensação as 4 horas da manhã no primeiro cantar do galo da madrugada, já era hora de acordar e levantar e ir
Tratar a bicharada de roça.
Tratar e dar a devida ração, aos bois, aos pintos de granja, tratar os cavalos, tratar as vacas leiteiras, tirar o leite,
Ordenhar a vaca leiteira etc.
Coisas e tarefas do tempo de roça.
Porém, quando vinha o seu amigo Lipinski, digo o seu maior amigo, ele o tratava com toda a hospitalidade e respeito.
Vale a pena ressaltar que, ele vinha bêbado e todas as vezes,
Vinha "bem turbinado", isto é, bêbado.
Costumava chegar lá em casa,
Pelas nove ou horas da noite, no sítio isto já era
Hora avançada, já era quase madrugada ?
A s tarefas de roça não acabavam nunca, sempre se tinha
Algo a fazer.
Por isso a gente vivia cansado, muito cansado.
Mas mesmo cansado, meu avô já tinha neste tempo os seus
Quase 70 anos de idade não reclamava, atendia bem ao seu
Amigo em sinal de respeito e hospitalidade.
Hospitalidade esta que quase se perdeu nos dias atuais, quando se vai visitar alguém hoje em dia, seja amigo ou seja
Algum parente,
Geralmente se é mal recebido em qualquer hora do dia ou
Da noite.
São poucas as pessoas que ainda conservam e valorizam a hospitalidade.
A hospitalidade, o respeito, a paciência, o amor ao próximo são os pilares mais importantes de uma família, de uma comunidade ou de um povo.
Vamos resgatar estes pilares da linha mestra dos velhos tempos de roça.
O trabalho é importante, mas as pessoas são mais importantes. Principalmente, os nossos parente e familiares são as pessoas mais importantes da vida, sem eles não podemos viver.
Sem a presença deles não teríamos nem nascido?
Que Deus nos ajude sempre, a conservar a hospitalidade e
As boas maneiras de:
Respeito, Amor ao próximo e carinho para com todos
Os seres humanos. Como nos canta o poeta cantor dizendo:
Mas, aqueles anjos que agora já se foram, que no tempo eu perdi,
a companhia deles eu perdi...?
Aqueles anjos que nos guardavam e protegiam em nosso tempo de infância e juventude... !
Oh como era consoladora a sua presença cheia de esperança e fé!
Está correto a poesia cantada pelo cantor Roberto Carlos que nos diz:
Mas aqueles anjos que agora já se foram, depois que eu cresci...
Meu mundo agora parece tão distante...?
Agora podemos dizer como nos escreveu o salmista:
"O anjo do Senhor acampasse ao redor dos que o temem e os livra..."
Alfonso Czaplinski
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