"De uma feita, estava Jesus orando
em certo lugar; quando terminou um dos seus discípulos lhe pediu Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. (Luc.11:1)
Questão foi mui duvidada entre os Antigos, qual dia desta vida era mais feliz; se o primeiro, se o último; se o do nascimento, se o da morte. Daqui veio, que seguindo várias gentes várias opiniões, umas se alegravam nos nascimentos, outras os celebravam com lágrimas: umas se entristeciam nas mortes, outras as solenizavam com festas. Chegou finalmente a dúvida ao tribunal do rei Salomão, o qual inclinando-se à parte que parecia menos provável, resolveu que melhor é o dia da morte, que o dia do nascimento. [«é melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde se faz festa»].
Com isto estar resoluto, e definido assim na Escritura, hoje parece que temos a mesma questão ou concordada, ou ressuscitada; porque estamos por mercê de Deus em um dia tão glorioso por uma morte, tão feliz por um nascimento, que bem se pode competir dentro em si mesmo, ou a vencer feliz suas glórias, ou a vencer glorioso suas felicidades. Consagrou-se este dia às glórias do Céu com a morte do maior santo que nele reina, o divino Esposo da Virgem Maria., S. José: e consagrou-se outra vez o mesmo dia às felicidades de Portugal, com o nascimento felicíssimo do mais desejado rei, e mais benemérito, el-rei nosso senhor D. João, o Quarto, para que sobre os trinta e oito, que hoje conta, continue por muitos e mui compridos anos as prosperidades que goza.
Morre hoje José, e nasce Sua Majestade. Que ventura tão recíproca! Nem José, morrendo, podia deixar no mundo melhor substituto: nem Sua Majestade, nascendo, podia entrar no mundo com melhor planeta. Estando Cristo Redentor nosso na cruz, olhou para S. João, o discípulo amado, e encarregou-lhe que tivesse cuidado de servir e acompanhar a sua Mãe. Reparam alguns santos em não dar o Senhor este cargo a outro apóstolo, senão a S. João, porque ainda que em S. João concorriam todas as qualidades, em algumas era igualado, e em alguma excedido; e para mordomo da Rainha dos Anjos todos o excediam no atributo da anuncianidade.
Morre hoje José, e nasce Sua Majestade. Que ventura tão recíproca! Nem José, morrendo, podia deixar no mundo melhor substituto: nem Sua Majestade, nascendo, podia entrar no mundo com melhor planeta. Estando Cristo Redentor nosso na cruz, olhou para S. João, o discípulo amado, e encarregou-lhe que tivesse cuidado de servir e acompanhar a sua Mãe. Reparam alguns santos em não dar o Senhor este cargo a outro apóstolo, senão a S. João, porque ainda que em S. João concorriam todas as qualidades, em algumas era igualado, e em alguma excedido; e para mordomo da Rainha dos Anjos todos o excediam no atributo da anuncianidade.
Pois se era mais moço João, e havia outros amados, e mais parentes, porque não escolheu Cristo a outro discípulo, senão a S. João para este ofício? A razão foi porque o ofício de acompanhar e servir à Senhora, era ofício de S. José, enquanto viveu: e para substituir em ausências de José, quem havia de ser, senão João?
Não é menos que de S. Cipriano o pensamento. Morrera José: vagara no mundo aquele grande lugar; e para substituir em sua
morte, para suceder em sua ausência, ninguém havia no mundo que estivesse
a caber, senão quem? João, o amado de Deus. João o amado de Cristo o
substitui.
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